Competitividade, longevidade e cumprimento da função social suscitam, nas organizações, uma reflexão sobre como a gestão financeira e os executivos de finanças podem contribuir de forma significativa para a sustentabilidade e perenidade das corporações.
A complexidade do mercado financeiro, dificulta a comunicação entre a função financeira e as operações das empresas, o que torna as finanças corporativas uma entidade à parte no sistema organizacional. O desafio dos executivos de finanças é transformar o financeiro complexo e chato, em algo simples, passível de execução e principalmente inteligível. Foi-se a época em que a definição da estrutura de capital, os controles de contas a pagar e receber, a elaboração dos orçamentos e as projeções de caixa eram suficientes.
Na atualidade, os gestores financeiros precisam entender mais do negócio da companhia, entrar na operação e, por meio de instrumentos simples, traduzirem o “financês” em adequações operacionais e de compliance. Roic, EVA, Roce e Ebitda, muito utilizados no meio financeiro, são consequência das ações operacionais implementadas. Poucas organizações conseguem, com simplicidade, traduzir esses conceitos em tarefa de todos.
O presidente de uma grande empresa questionou o porquê de uma companhia com bom Ebitda, não gerar caixa há mais de sete anos, sendo obrigada a recorrer a bancos para viabilizar a sua expansão. Em uma análise superficial, o foco poderia ser trabalhar a estrutura de capital com uma adequação dos recursos de terceiros ao fluxo de caixa previsto. Para o mercado financeiro, uma simples reestruturação de dívidas resolveria. Entretanto, apesar dessa adequação ser viável, existe uma oportunidade de gerar mais resultados, caso seja analisada a operação, entendido o ciclo financeiro, o processo de compras, de estocagem, logística, vendas, de recebimento e o de pagamentos.
O estoque é necessário, é um diferencial competitivo, mas estava em excesso, ocupando o lugar de outros produtos de maior giro e lucratividade. Os níveis de estoque cresciam em velocidade superior ao faturamento e o resultado era todo consumido como fonte de capital para ampliação desse estoque. A companhia, mesmo reestruturando as dívidas, se continuasse com um acelerado crescimento e com a mesma política operacional fatalmente entraria em colapso no longo prazo. O aporte de capital em estoque consumiria os resultados gerados e novos aportes de recursos seriam necessários.
Quando a geração de caixa não cobrisse mais as dívidas, a companhia não encontraria recursos no mercado, levando um negócio lucrativo à falência por problemas financeiros, sem contudo identificar que a causa da bancarrota estava na gestão de estoque. O executivo de finanças, em conjunto com a equipe de compras, logística e vendas deve definir um controle que permita aos compradores gerenciar volume de estoque, custo e prazo de pagamento. Dessa forma, o comprador pode, em cada negociação, simular o melhor para a companhia e fica clara a importância de um financeiro com visão de sistêmica do negócio.
Augusto Carneiro
Sócio da Top Capital Partners e membro do Conselho de Presidentes
https://www.topcapitalpartners.com.br