Realizamos na ACMinas, no final de outubro, uma mesa-redonda, que denominamos “Day After – Preparando para o Amanhã Chegar, que constituiu o primeiro ato da Frente Sudeste de Associações Comerciais, um acordo de cooperação firmado entre as ACs de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, e as respectivas Federações. O foco da aliança é a utilização da relevância geopolítica da região – que detém mais de 54 % do PIB brasileiro – como força de contribuição para o equacionamento de grandes questões nacionais.
Conduzida por debatedores de altíssimo nível (dois ex-ministros, Marcílio Marques Moreira, presidente do Conselho Econômico da Associação Comercio do Rio, e Paulo Paiva, professor da Fundação Dom Cabral, além de uma das maiores autoridades brasileiras em Educação, o professor Cláudio de Moura Castro, articulista da revista Veja), o Day After concentrou-se numa pergunta: “O que queremos para o Brasil?”.
Não é o caso, neste artigo, de relatar as conclusões do encontro – que, foram muitas e de grande relevância – mas, sim, de falar sobre seu contexto, que representou uma considerável mudança de rumo em relação aos debates atuais, que vêm se concentrando na busca de soluções de curto prazo para a crise com que hoje nos defrontamos – uma crise, diga-se, há muito tempo anunciada mas só revelada, com todo o seu ímpeto, em 2015.
Esta mudança de foco já se fazia necessária. Afinal, a crise está aí já faz praticamente um ano e pouco se falou, em seu decorrer, do futuro – tudo se concentrou no presente. Parece-me que aqui no Brasil está sobrando tempo, no Brasil todo mundo está à espera. Espera-se que a presidente da República saia, esta esperava que o presidente da Câmara não tivesse aberto o processo de impeachment e ele, por sua vez, esperava que o Planalto o livrasse da Operação Lava-Jato. A oposição, enquanto isso, espera que Eduardo Cunha acione efetivamente a guilhotina com que pretende liquidar Dilma, que por sua vez espera que o PT, que a elegeu, a apoie. Mas o PT espera que o Levy saia, para tudo voltar ao que era antes. Enquanto isso, o barco segue sem rumo. E nós, o que fazemos?
Nós perdemos tempo. Na verdade, nós perdemos a noção do tempo. Tudo o que nos cerca nos prende ao momento. Enquanto nossa atenção está concentrada no presente, tendemos a não ter consciência do tempo, mesmo sendo patente que foi somente quando o homem adquiriu a noção do tempo que ele se tornou efetivamente um ser humano em evolução. Foi aí que ele deixou de se orientar por uma ordem de coisas aparentemente imutável e adotou o conceito de que a realidade última não era ser, mas tornar-se.
O fato é que sabemos muito bem onde estamos, mas resta saber, agora, para onde é que vamos. Que caminhos nós, empresários – e não o governo – podemos oferecer para que o Brasil assuma um processo efetivo de desenvolvimento sustentável? Estamos fartos de diagnósticos e de respostas que se prendem ao mesmo modelo, aos mesmos métodos, aos mesmos personagens. Nosso desafio foi partir do ponto de vista de que aquilo que obtém a resposta crucial é a pergunta crucial. Foi esta, a pergunta crucial, que procuramos formular.
Não importa quantas vezes, vamos sempre nos perguntar quais são as nossas angústias em relação ao Brasil. É isto. Fizemos eclodir, com o Day After, algumas das perguntas cruciais que podem representar as tarefas fundamentais para a construção do Brasil que, no nosso entendimento, seja o país que queremos e vamos nos empenhamos em construir.
Lindolfo Paoliello
Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas
presidentelp@acminas.com.br